Olá pessoal, hoje, depois de
muito pensar, resolvi escrever um pouquinho sobre algo que faz minha cabeça dar
vários nós. Normalmente consigo me posicionar de forma clara e objetiva sobre
diversos assuntos pertinentes as mais diversas áreas, porém esse tema me traz
um desconforto gigantesco, mas como acredito que seja de extrema importância,
vou traçar alguns pontos que acho fundamentais serem tratados.
Antes de chegar ao tema, gostaria
de falar brevemente sobre o aborto, e minha posição, em primeira instância. É
difícil me colocar sobre um tema tão impactante, pois, por mais que meu lado
racional queira ultrapassar o emocional isso de fato não acontece.
Nesse momento, sou contra a
interrupção da vida, independente do estágio que ela se encontre partindo da
premissa que existem diversas formas de se prevenir uma gravidez. Temos os
anticoncepcionais via orais, injetáveis, o adesivo com a mesma finalidade; o
anel vaginal, o tão famoso dispositivo intrauterino, a camisinha, a polêmica
pílula do dia seguinte, além de que todos, sem exceção, têm conhecimento de
como acontece uma gravidez, e não falo isso pondo o peso da responsabilidade
somente nas mulheres, pois isso acontece com a junção de ambos os sexos,
portanto a responsabilidade deve ser dividida.
Mais uma vez, me posiciono contra
o aborto, porque o ser que está sendo gerado, independente de ter sido
programado ou não, nada tem a ver com a irresponsabilidade ou descuido dos
genitores. Porém, acredito que esse tema se torne uma questão de saúde pública
quando se trata de estupro ou risco de vida por exemplo. E é aí que minhas
indagações, por vezes contraditórias começam. Como posso pregar que a vida de
um ser indefeso é mais importante que a dos genitores em um momento, e em
outro, acreditar, que mesmo que isso seja ruim, é melhor que ele morra?
Nesse momento entra o Estatuto do
Nascituro, que vem de encontro com o que eu queria tratar; este; traz a
ideologia que todo indivíduo tem direito à vida, que precisa de cuidado e
proteção legal mesmo antes de seu nascimento, a partir de
sua concepção. Até então concordo, porém em questão risco de vida da gestante,
ou estupro, uma violência hedionda, a questão continua a ser vista da mesma
forma? É a partir daqui que minha cabeça começa a dar nós, muitos nós.
Li uma coluna que falava que o
governo disponibilizaria um salário mínimo a gestante vítima de estupro
(baseado no estatuto do nascituro) para que continuasse com a gestação até que
o pai fosse encontrado. Aí eu pergunto, qual a real intenção dessa “bolsa”?
Apesar de acreditar que o ser que esta sendo gerado nada tem a ver com a
violência que essa mulher sofreu ou com o ato brutal que esse homem cometeu,
preciso levar em consideração que essa é uma decisão íntima, individual. Eu
preciso respeitar que essa mulher pode não ter forças pra seguir em frente com
uma gestação que a lembrará diariamente das violências que sofreu. Eu preciso
analisar que ela poderá desenvolver doenças como a depressão, por exemplo, por
se sentir culpada em parar essa gestação, ou até mesmo em prosseguir por se
basear em princípios ou dogmas religiosos. É preciso entender que ninguém
estará preparado pra lidar com uma situação dessas, que por mais madura,
racional ou bem resolvida emocionalmente alguém poderá decidir entre a razão e
a emoção, ou a ciência e a religião em uma situação que a deixa extremamente
vulnerável.
É necessário analisar mesmo que
brevemente, que essa mãe, vítima de estupro, pode ver, no rosto do seu filho
(a) o seu algoz e por isso passe a rejeitá-lo ou a castigá-lo. Ou que mesmo
tendo esse “pensamento”, cuide de seu filho passando por todo terror
psicológico e social por medo de um “castigo divino”.
Outro fator que me deixou
intrigada é o fato do governo oferecer a tal bolsa até que o pai seja
encontrado. Peraí, depois que encontrarem o pai, vão querer que ela, a vítima
de violência crie vínculo com o estuprador? Que forme família? Ou que entre na
justiça pra ter uma pensão?
Esse pequeno texto, não tem valor
científico, é apenas uma forma de abrir um pequeno leque de questionamentos. É
preciso, mais uma vez e antes de tudo, que para julgarmos o que é certo ou
errado nesse caso, nos coloquemos no lugar dessa pessoa, ou então que tentamos
imaginar que isso tenha acontecido com alguém que amamos muito. Talvez nossa
opinião, modo de pensar de principalmente de julgar as pessoas seja diferente,
seja mais humano e menos egoísta.
Carmem Daiane Basso
Assistente Social
Grávida do Murillo
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